sábado, 15 de junho de 2019

Soneto


Abri meus olhos ao raiar da aurora
e parti. Veio o sol e então segui-a…
a sombra, que eu julgava guiadora,
a minha própria sombra fugidia.

E foi subindo o sol; ao meio dia
escondeu-se-me aos pés a sombra; agora,
se volto a olhar onde passei outrora,
vejo a seguir-me a sombra que eu seguia.

A gente é o sol dum dia; sobe, avança,
passa o zenite e vai, na imensidade,
apaga-se no mar, onde se lança…

e a vida é a própria sombra; meia idade
somos nós que a seguimos e é – esperança;
depois segue-nos ela e é – saúdade.

Fonte: Almanaque Bertrand, 1940
Texto/Autor: Fernando Caldeira
Foto da net
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