Quando eu passei, já parira.
Já não vi o milagre
em toda a sua inteireza.
- Vi apenas
o chibinho buscando, sem achá-las,
as tetas maternais.
Sómente sombras, árvores e céus
lhe haviam assistido.
Nem de mais precisou, p’ra se partir
em duas vidas iguais.
(Seria por acaso que eu passei?)
O chibinho balia.
Ela, calada,
suspeito que pensava o que pensei:
cabra ou mulher, naquele instante enorme
o respeito devido é sempre o mesmo.
Ah!, que eu já sei, já sei como os cabritos
dizem Mãe!
O chibinho balia.
Fez-se um grande silêncio em volta do
Mistério:
tudo, à volta, se enchia
do balido tão flébil…
Como que a Natureza se cansara
de ser pagã,
e submissa, suspensa, ajoelhada,
virgem de Graça, atendia
de aquele enorme instante misterioso
a esmola de ser santificada.
Fonte: Almanaque Diário de Notícias (1954)
Texto/Autor: Sebastião da Gama (Do livro «Cabo da Boa
Esperança»)
Foto da Net
𺰘¨¨˜°ºðCarlosCoelho𺰘¨¨˜°ºð