segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Caravelas


Quem sabe lá, quem me diz
P’ra que encantado país
Navegam as caravelas?

Onde vão elas? Aonde?
Que aventureiro destino
Ou ideal peregrino
Seu rumo altaneiro esconde?

A minha alma é também
Qual caravela ligeira
Que não tem Pátria, nem rei…
Anda no mar à ventura

Como quem dono não tem…
Deixai-a, pois, ir na esteira
Do vosso rumo sem lei,
Caravelas da Ventura!...

Velas de sonho, enfunadas,
De quimeras carregadas
Dizei-me onde ides, dizei?!...

Parai um pouco… Esperai,
Que eu vou convôsco  também!
Nos altos mastros erguida
Minha divisa lá vai:

Um vermelho coração
Donde brota enrubescida
A rosa da ilusão…
Vamos então… Naveguemos,
Velas inchadas ao vento!
Levais quimeras e eu sonhos…
E com tal carregamento
Forçoso é que cheguemos.

…Se não chegarmos? Se a Morte
O nosso rumo nos corta?
Velas de sonho, que importa,
Que importa que naufraguemos?!...

Ter ilusões e perdê-las
No mar da Vida, sem calma,
É triste, sim… Mas não tê-las
Deve ser mais triste ainda!
Caravela da minh’alma
Tão leve, tão alta e linda,
Não tenhas mêdo!... Singremos.
Rumo à Ventura e à sorte!...

Fonte: Almanaque Bertrand (1940)
Texto/Autor: Branca Cruz
Foto da net
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