terça-feira, 1 de novembro de 2016

A borboleta branca


A borboleta branca das nossas terras, a qual, invadindo as hortas vicejantes, acusa gulosas preferências pela fôlha de couve, também é conhecida no Japão; mas aqui, onde as couves rareiam, é para os campos de colza que ela dirige especialmente o vôo caprichoso. Em fins de Abril, estes campos de colza esbrazeiam em florescências amarelas, atapetando planícies enormes, a perderem-se de vista; e então as borboletas brancas, por centenas, por milhares, circunvagam pelo espaço, num banho de perfume. A pequenina musumé das aldeias, ao ir de manhã para a escola, pára por momentos à beira das culturas, embevecida nos aspectos do cenário; e, estendendo as mãositas ao enxame murmura esta cantiga popular:
 - Chôchô chôchô, na no há ni tomare; na no há gá iyenara, té ni tomare…
Que quer dizer:

Borboleta, vem poisar
Na tenra colza; ou então,
Se te não agrada a colza,
Vem poisar na minha mão…

No convite ao insecto, transparece – valha a verdade – um inconsciênte  orgulho pelos encantos da epiderme própria. Faltam-se dados bastantes de observação para julgar se a borboleta obedece ao chamamento. Se eu fosse borboleta, não hesitaria na escôlha; - abandonaria a colza, para ir morrer de fome sôbre os dedos setinosos daquela mãosita de masumé. –

Fonte: Almanaque Bertrand (1940)
Texto/Autor: Wenceslau de Morais (Do seu livro «Serões no Japão»).
Foto da net
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