A meio da doença cruciante,
No vivo empenho de a animar ainda,
Comprei-lhe uma boneca muito linda,
Que ela teve nas mãos um só instante.
Mas teve-a em suas mãos, e isso é bastante
Para que eu, muita vez, com mágoa infinda,
Beije a boneca, apetecendo a vinda
Da morte maternal, pacificante.
Pobre boneca! Ao ver meu desatino,
Mostrar pareces tal desconfiança
Que eu nem me atrevo a defrontar-me ao espelho.
E tens razão: erraste o teu destino!
Em vez de fazer rir uma criança,
Fazes chorar agora um pobre velho!
Fonte: Almanaque Bertrand
Texto/Autor: Eugénio de Castro
Foto da net
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