quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

O Colar de Pérolas


Maria Luiza acabava de tomar banho quando a criada lhe anunciou a visita de um agente da Sociedade de Publicidade Teatral. Qualquer outro importuno tê-la hia procurado em vão, mas como se tratasse de um agente de publicidade, ordenou imediatamente que o fizessem entrar para a sala.Ela, que até ali não passara de uma artista de terceira categoria, que ainda não tivera no teatro outra aplicação que não fôsse a de despir-se, nem outro valor além daquele que pode representar um amante rico, pensou de si para si, que o estranho que acabava de lhe bater à porta, talvez trouxesse um contracto vantajoso, e, quem sabe, se uma entrevista na primeira página do jornal.
Maria Luiza vestiu um pijama de sêda, calçou umas chinelinhas, mirou-se no espelho e apareceu na salêta com o melhor dos seus sorrisos.
- A quem tenho a honra de falar.
- João Reis. Agente da Sociedade de Publicidade Teatral.
- Que pretende?
- Vou explicar-lho em duas palavras.
E, tomando atitudes de grande personagem, expoz o fim da sua visita.
- Considero uma injustiça que uma artista talentosa como V. Ex.ª, (Maria Luiza sorri. Parece concordar) não tenha no teatro o lugar de destaque que lhe compete.
E’ provável que a sorte a não acompanhe, mas é preciso que V. Ex.ª não se abandone ao destino; é preciso lutar! Não está certo que uma actriz bonita como V. Ex.ª, uma artista com A, como V. Ex.ª continue a interpretar papeis de terceira ordem! (Maria Luiza, confundida com tanta amabilidade, ofereceu-lhe uma cadeira). E’ uma injustiça, repito. – Muito obrigada!
Ela esboça o mais lindo dos seus sorrisos; êle, continúa sem esmorecer.
- Posso garantir-lhe que, muito brevemente, será V. Ex.ª quem interpretará os primeiros papéis no seu teatro! Sou eu quem lho prometo.
Maria Luiza não compreendêra ainda quais eram as intensões do seu interlocutor, mas aquelas referências à sua pessôa enchiam-na de confiança. E, radiante, como uma criança pequena a quem dão brinquedos, perguntou:
- Para isso, que é preciso fazer?
- ouvir-me, replicou o agente. A que se devem os sucessos? Ao reclame, unicamente ao reclame. E’ êle que atrai os olhos, que provoca a admiração e mantém as posições adquiridas. Quando um artista cai no esquecimento, só tem uma defeza: o reclame. Para o fazer prepara-se um desastre, ou provoca-se um escândalo se preciso fôr. No dia seguinte os jornais publicam o retrato do artista visado e fazem uma reportagem desenvolvida. Imediatamente se enche à cunha o teatro onde êle trabalha. Pois Bem! Nós pensámos organizar scientificamnete este reclame e, foi nesse intuito, que se fundou a Sociedade de Publicidade Teatral, à qual eu tenho a honra de pertencer.
Maria Luiza escutava sofregamente. Ele continuou:
- Mas vamos à prática. O desastre e o escândalo são geralmente perigosos. Nós , preferimos o roubo… Não se assuste! E’ um roubo sem consequências. A cliente escolhe o objecto que desêja ver desaparecer. Por exemplo: O automóvel, um anel de preço, um colar de pérolas, uma camisa modelo de luxo… O objecto roubado fica em poder da Sociedade e a cliente apresenta a sua queixa. Os jornais sob as nossas indicações baseiam-se em pistas erradas, e, quando a curiosidade do público atinge o máximo, o roubo aparece num lugar imprevisto. Veja V. Ex.ª o que não representaria de publicidade se a sua camisa fôsse encontrada numa gavêta da secretária dum escritor de nome!!... Dêsde já lhe podemos garantir um esplêndido resultado. O preço, a combinar. De resto V. Ex.ª só pagará depois de lhe ter sido restituído o furto.
Maria Luiza estava extasiada. Ia decidir-se a sua carreira.
_ Agrada-me a oferta. Mas, diga: o que me vai roubar?
- V. Ex.ª dirá …
Ela exitou um instante, mas de repente, levando as mãos ao pescôço, exclamou:
- Pode ser o colar de pérolas que o Carlos me ofereceu. Vale bem trinta ou quarenta contos…
- Bôa ideia! Irei busca-lo esta noite ao seu camarim.
-E’ muito amável.
- Ainda é cedo para me agradecer. Depois…
Quando Carlos chegou, à hora do almôço, Maria Luiza, radiante, saltou-lhe ao pescôço.
- Graças ao colar que tu me deste, vou ser finalmente uma «artista»…
O amante quis saber o que se passava, mas inutilmente. A resposta era sempre a mesma.
- Tu verás! E’ uma surpresa…
Conforme estava combinado, à noite, o colar que ficara abandonado no camarim, desaparecêra. Maria Luiza por pouco não bateu as palmas de contente, esquecendo que era necessário representar a comédia… Então, gritou, chorou desesperadamente.
Depois do espectáculo, a futura estrêla, apresentou queixa à polícia. O chefe, incrédulo, tomou conta do caso, mas não se convenceu da sua veracidade.
No dia seguinte, Maria Luiza devorou todos os jornais e nem uma linha sequer acerca do seu colar. A dúvida apoderou-se dela. Esperou um dia mais, dois dias, três dias… Do agente nem novas, nem mandados… Do colar, muito menos… quando se convenceu que tinha sido roubada, confessou ao Carlos a sua desgraça… as o amante é que não quis acreditar.
- Bem te conheço!!... Como não gostas do colar que te dei, inventas-te essa história para vêr se eu te comprava outro…


FIM

Fonte: Almanaque D’«O Seculo»
Texto/Autor: Desconhecido
Fotos da net
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