Maria Luiza acabava de tomar banho quando a criada
lhe anunciou a visita de um agente da Sociedade de Publicidade Teatral.
Qualquer outro importuno tê-la hia procurado em vão, mas como se tratasse de um
agente de publicidade, ordenou imediatamente que o fizessem entrar para a
sala.Ela, que até ali não passara de uma artista de terceira categoria, que
ainda não tivera no teatro outra aplicação que não fôsse a de despir-se, nem
outro valor além daquele que pode representar um amante rico, pensou de si para
si, que o estranho que acabava de lhe bater à porta, talvez trouxesse um
contracto vantajoso, e, quem sabe, se uma entrevista na primeira página do
jornal.
Maria Luiza vestiu um pijama de sêda, calçou
umas chinelinhas, mirou-se no espelho e apareceu na salêta com o melhor dos
seus sorrisos.
- A quem tenho a honra de falar.
- João Reis. Agente da Sociedade de Publicidade
Teatral.
- Que pretende?
- Vou explicar-lho em duas palavras.
E, tomando atitudes de grande personagem, expoz
o fim da sua visita.
- Considero uma injustiça que uma artista
talentosa como V. Ex.ª, (Maria Luiza sorri. Parece concordar) não tenha no
teatro o lugar de destaque que lhe compete.
E’ provável que a sorte a não acompanhe, mas é
preciso que V. Ex.ª não se abandone ao destino; é preciso lutar! Não está certo
que uma actriz bonita como V. Ex.ª, uma artista com A, como V. Ex.ª continue a
interpretar papeis de terceira ordem! (Maria Luiza, confundida com tanta
amabilidade, ofereceu-lhe uma cadeira). E’ uma injustiça, repito. – Muito
obrigada!
Ela esboça o mais lindo dos seus sorrisos; êle,
continúa sem esmorecer.
- Posso garantir-lhe que, muito brevemente, será
V. Ex.ª quem interpretará os primeiros papéis no seu teatro! Sou eu quem lho
prometo.
Maria Luiza não compreendêra ainda quais eram as
intensões do seu interlocutor, mas aquelas referências à sua pessôa enchiam-na
de confiança. E, radiante, como uma criança pequena a quem dão brinquedos, perguntou:
- Para isso, que é preciso fazer?
- ouvir-me, replicou o agente. A que se devem os
sucessos? Ao reclame, unicamente ao reclame. E’ êle que atrai os olhos, que
provoca a admiração e mantém as posições adquiridas. Quando um artista cai no
esquecimento, só tem uma defeza: o reclame. Para o fazer prepara-se um
desastre, ou provoca-se um escândalo se preciso fôr. No dia seguinte os jornais
publicam o retrato do artista visado e fazem uma reportagem desenvolvida.
Imediatamente se enche à cunha o teatro onde êle trabalha. Pois Bem! Nós
pensámos organizar scientificamnete este reclame e, foi nesse intuito, que se
fundou a Sociedade de Publicidade Teatral, à qual eu tenho a honra de
pertencer.
Maria Luiza escutava sofregamente. Ele
continuou:
- Mas vamos à prática. O desastre e o escândalo
são geralmente perigosos. Nós , preferimos o roubo… Não se assuste! E’ um roubo
sem consequências. A cliente escolhe o objecto que desêja ver desaparecer. Por
exemplo: O automóvel, um anel de preço, um colar de pérolas, uma camisa modelo
de luxo… O objecto roubado fica em poder da Sociedade e a cliente apresenta a
sua queixa. Os jornais sob as nossas indicações baseiam-se em pistas erradas,
e, quando a curiosidade do público atinge o máximo, o roubo aparece num lugar
imprevisto. Veja V. Ex.ª o que não representaria de publicidade se a sua camisa
fôsse encontrada numa gavêta da secretária dum escritor de nome!!... Dêsde já
lhe podemos garantir um esplêndido resultado. O preço, a combinar. De resto V.
Ex.ª só pagará depois de lhe ter sido restituído o furto.
Maria Luiza estava extasiada. Ia decidir-se a
sua carreira.
_ Agrada-me a oferta. Mas, diga: o que me vai
roubar?
- V. Ex.ª dirá …
Ela exitou um instante, mas de repente, levando
as mãos ao pescôço, exclamou:
- Pode ser o colar de pérolas que o Carlos me
ofereceu. Vale bem trinta ou quarenta contos…
- Bôa ideia! Irei busca-lo esta noite ao seu
camarim.
-E’ muito amável.
- Ainda é cedo para me agradecer. Depois…
Quando Carlos chegou, à hora do almôço, Maria
Luiza, radiante, saltou-lhe ao pescôço.
- Graças ao colar que tu me deste, vou ser
finalmente uma «artista»…
O amante quis saber o que se passava, mas
inutilmente. A resposta era sempre a mesma.
- Tu verás! E’ uma surpresa…
Conforme estava combinado, à noite, o colar que
ficara abandonado no camarim, desaparecêra. Maria Luiza por pouco não bateu as
palmas de contente, esquecendo que era necessário representar a comédia… Então,
gritou, chorou desesperadamente.
Depois do espectáculo, a futura estrêla,
apresentou queixa à polícia. O chefe, incrédulo, tomou conta do caso, mas não
se convenceu da sua veracidade.
No dia seguinte, Maria Luiza devorou todos os
jornais e nem uma linha sequer acerca do seu colar. A dúvida apoderou-se dela.
Esperou um dia mais, dois dias, três dias… Do agente nem novas, nem mandados…
Do colar, muito menos… quando se convenceu que tinha sido roubada, confessou ao
Carlos a sua desgraça… as o amante é que não quis acreditar.
- Bem te conheço!!... Como não gostas do colar
que te dei, inventas-te essa história para vêr se eu te comprava outro…
FIM
Fonte: Almanaque D’«O Seculo»
Texto/Autor: Desconhecido
Fotos da net
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