Entre os anjos do céu havia um que se chamava
Serafim e que era um anjo importante, mas era também um bocado traquinas. Vivia
a fazer brincadeiras com os amiguinhos. Puxava as trancinhas das anjinhas,
prendia as asas dos outros anjos com molas da roupa, fazia «buuuuuuuuuu» para
assustar São Pedro, na portaria do céu, e colocava nuvens na Lua para apagar o
brilho. Mas, mesmo sendo tão rebelde, era muito querido pelo anjo Guardião,
responsável pela ala onde viviam os anjos.
Um dia Deus chamou o Guardião à sua sala. Os
megafones do Céu retumbaram:
- Atenção, senhor Guardião dos anjos, compareça
à sala do Altíssimo!
Esse chamado foi repetido várias vezes. O
Guardião tomou conhecimento. Arrumou a sua vestimenta, aprumou as asas, ajeitou
a auréola de luz da sua cabeça, iluminou o rosto com um sorriso e lá foi para a
sala do Pai.
Chegou e bateu timidamente. A voz grave veio lá
de dentro:
- Entra, meu filho!
O Guardião entrou e viu na face do Pai toda a
bondade, toda a placidez que existe no universo.
Então ele disse:
- Pai, estou à espera das suas ordens!
Deus chamou-o para perto de si e, sorridente,
cochichou ao seu ouvido. Depois disse, convicto:
- Que se cumpra!
Enquanto isso, na sala dos anjos havia um forte
burburinho. O que seria que Deus queria conversar com o anjo Guardião? Neste
momento entra o Guardião, muito sério.
- Crianças, o Senhor destinou uma tarefa para um
de vocês. Não era fácil, porque a tarefa não será no Céu, será na Terra.
Ouviu-se, em uníssono, o «oh» dos anjos. Realmente
será uma missão quase impossível. Humanos não são fáceis. E o anjo? Qual deles
estava designado para essa tarefa? Mais uma vez, ouviu-se a voz do Guardião:
- O anjo escolhido por Deus é o anjo Serafim…
Nesse momento todos exclamaram: «Chiiiiiiiiiiiii!»
Eles não acreditavam muito no pobre do Serafim. O Guardião continuou a falar:
- O anjo escolhido tem a missão de salvar as
baleias dos mares da Terra e tem sete dias para fazer o trabalho.
Um anjo curioso perguntou:
- Porque é que Deus quer que sejam salvas as
baleias?
- Porque elas fazem parte do equilíbrio do
ecossistema do planeta. Cada animal, cada planta, cada macro e microrganismo,
são um elo da corrente. Quebrado um elo, todo o sistema desaba. O ecossistema
da Terra já está quase falido porque o homem não sabe cuidar da casa que Deus
lhe deu.
E Serafim desceu á Terra para cumprir a sua
missão. Assustou-se com o movimento de carros, tossiu com o ar poluído, viu a
devastação das matas, a erosão do chão, tremeu diante da poluição das águas e
até chorou quando viu a enormidade de lixo a boiar nos rios e nos mares. Já
estava no terceiro dia. Partiu para o oceano para conhecer as baleias.
Ficou com o coração partido ao ver aqueles
barcos com homens arpoando os enormes animais. Ficou pairando no ar a imaginar
como ele, tão pequenino, poderia salvar aquele imenso animal, caçado por outro
mais pequeno. Já estava no sexto dia e ele ainda não sabia como fazer para
salvar as baleias. Voltou para terra. Fico invisível no cais, vendo e ouvindo
as pessoas. Foi neste momento que chegou um grupo indignado com aquela matança.
- Veja – dizia uma mulher -, a baleia-azul, a
orca e o cachalote já são tão poucos nos oceanos.
E ficaram a contar as baleias mortas que eram
descarregadas no cais.
Então Serafim teve uma ideia. Aproximou-se do
grupo e soprou, ao ouvido de uma das pessoas, a ideia:
- Pessoal, já sei como vamos acabar com isto!
- Como? – perguntou um homem alto e forte.
- Vamos partir para o mar em barcos, botes, seja
lá o que for, com megafones no volume máximo, ficaremos á frente do baleeiro e
só sairemos quando eles desistirem. Se algum de nós morrer, será por uma causa
justa.
E assim foi feito. Embora não tenham acabado,
totalmente, com a mortandade das baleias, ela diminuiu um pouco. Foi muito
trabalho. Muita luta com os países que defendem a caça sem limites das baleias.
Isto aconteceu no sétimo dia da missão de
Serafim. Feliz, ele voltou para o Céu. Todo o colectivo de anjos estava em
festa. Tinha sido cumprida a ordem de Deus. O anjo Guardião entregou a medalha
de «honra e mérito» a Serafim, sob os aplausos de todos. Depois da recepção, o
Guardião pegou Serafim pela mão e subiu com ele para a esfera mais alta do Céu,
onde habita Deus, porque a partir daquele instante, Serafim tornou-se um dos
anjos que estão á direita de Deus.
Fonte: Revista Terra do Nunca
Texto: www.contos.poesias.nom.br
Fotos: Carla Antunes
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