sexta-feira, 30 de novembro de 2018

O esconderijo das galinhas


Todas as madrugadas a minha mãe levava-me para casa dos meus avós. Ainda o sol não tinha aparecido, era escuro e fresquinho. Eu ficava lá  até à hora de ir para a escola e os meus pais irem trabalhar. Ali passei toda a minha infância e adorava lá ficar.
A casa não era muito espaçosa, mas o quintal era o meu paraíso. O meu avô cuidava muito bem dele. Havia árvores de frutos, pereiras carregadas. As peras pareciam enferrujadas mas eram bem doces quando estavam maduras. As parreiras eram três, uma de uva preta bem pequenina, que o meu avô usava muito para fazer vinho. As outras eram rosa e branca. Além de toda a fruta havia uma plantação que a avó cuidava, com chás e ervas que os vizinhos vinham sempre procurar.
No fundo deste quintal havia um galinheiro com vários tipos de galinhas, brancas, vermelhas e umas diferentes que não sei bem se eram galinhas-de-angola. Só sei que faziam um barulho engraçado!
Um dia resolvi que iria procurar uma forquilha para a minha fisga. Nós brincávamos ao tiro ao alvo com elas e fazíamos campeonatos para ver quem atirava mais longe a pedra. Nunca a usei para fazer maldades.
Subi  à árvore mais alta e fiquei lá à procura. De repente encontrei, num canto do quintal bem ao fundo… Uma mancha branca? Um monte de pedras? Ora, o que seria?
Fiquei curioso e resolvi descer. Fui directo ao lugar, e que surpresa! Era um monte de ovos de galinha.
Corri para dentro de casa e chamei a minha avó, que não pareceu surpreendida. Levou uma cestinha de palha e pegou nos dez ovos que ali estavam. Então explicou-me que as galinhas costumam ter esconderijos no quintal.
-Vê, são ovos diferentes uns dos outros.
E realmente eram. Mais tarde chamou-me: tinha feito um bolo de iogurte delicioso usando alguns ovos do esconderijo.
Mais uma coisa para eu espiar: agora seria os esconderijos das galinhas.
Acabei de fazer a minha fisga e mostrei-a ao meu avô que estava a fazer um banquinho para mim.
- Cuidado, menino, isso é uma arma, vê lá o que vais fazer com ela!
- Pode ficar descansado avô. Não se esqueça do meu carrinho de rolamentos.
Fizemos o campeonato e eu perdi – pudera, a minha fisga estava com defeito.
Pois claro, só pensava em encontrar os esconderijos das galinhas!

Fonte: Revista Terra do Nunca
Texto/Autor:
Foto da revista
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