A borboleta branca das nossas
terras, a qual, invadindo as hortas vicejantes, acusa gulosas preferências pela
fôlha de couve, também é conhecida no Japão; mas aqui, onde as couves rareiam,
é para os campos de colza que ela dirige especialmente o vôo caprichoso. Em
fins de Abril, estes campos de colza esbrazeiam em florescências amarelas,
atapetando planícies enormes, a perderem-se de vista; e então as borboletas
brancas, por centenas, por milhares, circunvagam pelo espaço, num banho de
perfume. A pequenina musumé das
aldeias, ao ir de manhã para a escola, pára por momentos à beira das culturas,
embevecida nos aspectos do cenário; e, estendendo as mãositas ao enxame murmura
esta cantiga popular:
- Chôchô chôchô, na no há ni tomare; na no há
gá iyenara, té ni tomare…
Que quer dizer:
Borboleta, vem poisar
Na tenra colza; ou então,
Se te não agrada a colza,
Vem poisar na minha mão…
No convite ao insecto,
transparece – valha a verdade – um inconsciênte
orgulho pelos encantos da epiderme própria. Faltam-se dados bastantes de
observação para julgar se a borboleta obedece ao chamamento. Se eu fosse
borboleta, não hesitaria na escôlha; - abandonaria a colza, para ir morrer de
fome sôbre os dedos setinosos daquela mãosita de masumé. –
Fonte: Almanaque Bertrand
(1940)
Texto/Autor: Wenceslau de
Morais (Do seu livro «Serões no Japão»).
Foto da net
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