Adélia tem 32 anos. É
magra, tem cabelo escuro, liso (o que é muito importante porque eu passo a vida
no cabeleireiro…) veste-se bem e, numa festa, Adélia nunca deixa de ser
observada. É bem informada, curiosa e sai algumas vezes à noite. Agora menos.
Adélia junto dos amigos
faz algumas caras tortas. E eles junto dela, também. Até mais do que ela.
Porque os amigos acham que a Adélia tem um feitio difícil. Mostra-se
impaciente, enfurece-se com pouco. Contesta tudo o que conquista. Há um amigo
que diz que a Adélia parece precisar de um orgasmo. É como se estivesse
permanentemente naquela tensão – à beirinha de o conseguir, mas depois porque
talvez conteste o próprio orgasmo) não o atinge e, claro, fica furibunda. Ela é
assim sempre. Menos quando bebe. À noite quando sai e se enfrasca, Adélia
parece outra mulher: dança e abraça os amigos e namorisca os desconhecidos.
Nestas poucas horas de folia, é adorável. O problema, mesmo, é levar com ela o
resto do tempo…
Aconteceu há uns tempos eu
e a Adélia estarmos interessadas no mesmo rapaz. Mas não sabíamos.
À partida ela tinha mais
hipóteses: a beleza natural dela, os cabelos soltos e a magreza que se leva
debaixo do braço eram vantagens. Perante este quadro, e quando me apercebi de
que ele olhava mais para ela, recuei. Caramba pensando bem, aquele rapaz só me
iria trazer problemas. Convidei ambos para o meu aniversário e durante a festa
conversaram muito. Mas eu, que ia espreitando os dois, via muitas vezes na cara
dela a tal tensão. Não estaria ela a conseguir atingi-lo?
Durante uns dias nada
soube dos dois. Mas quis o destino (é assim que se diz, não é?) que eu e ele
nos cruzássemos de novo. E quando nos cruzámos, conseguimos alcança-lo
magnanimamente. Sim o orgasmo. Embora a minha tensão tenha vindo depois quando
descobri que me estava a apaixonar… (mas há riscos que vale a pena correr.
Estar apaixonado é o melhor deles).
Eu e o rapaz passámos a
ter um relacionamento intenso, mas não assumido. Adélia era por isso uma
sombra. Um orgasmo que tinha ficado por conseguir. Iria ela insistir? Ou seria
ele? São estas dúvidas que consomem uma mulher. Não é o conflito
israelo-palestiniano… Eu e o rapaz fomos quase felizes durante algum tempo. O
“quase” aqui quer dizer muitas chatices também. Mas isso era matéria para outra
crónica. E eu quero poupar-vos. O que interessa hoje é perceberem que a beleza
da Adélia não era tudo. Não foi. Não é, Adélia. A beleza ao contrário do que se
dizia a música dos Rockivarius, não é fundamental. (Pobre Cristina, que levou
com este refrão tantas vezes nos anos 80…).
Um dia ele disse-me que
tinha ido jantar com ela. E eu estremeci. “Não se passou nada”, garantiu ele.
“Faltava-lhe chama.” Depois do susto, estremeci mas de prazer, ficando com
aquela serenidade que dura pouco, mas que é tão boa. A serenidade dos corpos
cansados. Coisa que talvez a Adélia não conhecesse.
O ponto desta crónica é
perceberem que uma mulher interessante é mais bonita que uma mulher cuja beleza
não suscita dúvidas. Eu sei que a minha beleza levanta muitas questões. E
prefiro assim. Prefiro que me conheçam e se deixem conquistar sem perceber como
nem porquê. Entre a Adélia e a Cidália, porquê a Cidália? Ora bolas, têm de me
conhecer!
As mulheres que vos
perturbam são as que vos vão dar mais prazer. Isto é como a história dos homens
preferirem as loiras mas ficarem com as morenas… Eu e a Adélia somos ambas
morenas, mas a Adélia não perturba. Enche só a vista com a sua beleza flat.
Eu adoro perturbar rapazes
bonitos com as dúvidas sobre o que vêem… Não é fascinante começar a gostar cada
vez mais sem saber muito bem porquê?
Eu cá sei…
Oh God, make me good, but not yet!
Fonte: Revista Notícias
Sábado
Texto/Autor: Cidália (cidaliadias@yahoo.com)
Foto da net
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