sábado, 2 de maio de 2020

Carta de um anónimo a uma desconhecida



10 da manhã. Novo dia…
Dê largas à fantasia…
É preciso renovar,
Hora a hora, as ilusões,
Tal como as ondas do mar,
Que refluindo em cachões,
Depois dum trabalho ardente,
Na praia, na maré cheia,
Deixam ficar docemente,
Novos grãozinhos de areia…

A fantasia é o mar
Que há nos nossos corações…
É preciso renovar,
Hora a hora as ilusões!...

Um amor não é perfeito
Se vive só dos sentidos…
Deve ter – peito com peito-
Dois corações bem unidos.
É mesmo preciso, até,
Em cada dia que passa,
Iluminá-lo com fé,
Dar-lhe um ar da nossa graça…

A fantasia é um mar
Que há nos nossos corações…
E serve p’ra renovar,
Hora a hora as ilusões…

A sombra de uma incerteza,
Um desejo uma ansiedade,
Uma nuvem de tristeza,
Um palpitar de saudade,
Podem salvar um amor,
Fazê-lo reanimar…
Muitas vezes uma flor
Tem mais frescura e mais cor
Banhada pelo luar!...

Receba com um sorriso
Esta carta mal rimada,
Toda escrita de improviso,
Como se fosse falada.
E leia-a com simpatia,
Que ela não tem ironia
Nem sentimentos perversos.
E veja – quando acabar –
Se é capaz de adivinhar
Quem lhe escreveu estes versos…

Fonte: Almanaque Diário de Notícias 1955
Texto: Pereira Coelho
Fotos da Net
© Carlos Coelho

Sem comentários:

Enviar um comentário